quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Na Praia - Memorias






Quando se é pequena temos muitos medos imaginários. Esses medos tornam-nos crianças aterrorizadas até com pequenas coisas e certas brincadeiras. Fazia um dia lindo, o sol brilhava forte na praia de São Vicente, onde meus pais me levaram pela primeira vez à praia em 1967. Lembro-me adorei ficar sentada na areia aonde a água quase chegava, mas não me molhava. Ficava brincando de fazer buracos na areia e tirar a água que neles juntava conforme ia escavando com as mãos. Pegava o balde vermelho enchia e descarregava...nunca ficava vazio esses buracos. Era gostoso ter a mamãe e o papai por perto sempre com a atenção voltada para mim. Vez ou outra meu pai e minha mãe discutiam por alguma coisa que não me recordo ao certo. Mas sei que discutiam. Minha mãe ficava sentada comigo na areia e meu pai ficava na barraquinha de comida, mas estava bebendo na realidade. Meu pai bebia e ficava eufórico e minha mãe não gostava. Mas tudo o que eu queria era continuar a brincar na areia e nada mais. Meu pai vinha com um refrigerante ou sorvete de vez enquanto para nos oferecer, mas nem ficava muito tempo perto da gente por causa da carranca da minha mãe. Ai, ele voltava para a barraca e continuava a prosear com os amigos que fazia naquela hora. Meu irmão já era nascido, mas não veio com a gente para a praia, ficou com algum parente. Esse passeio era daqueles bate e volta que muitos conhecem e já fez algum dia. Como era delicioso ficar ali contemplando aquele lindo mar com suas ondas e marolas que chegavam de mansinho molhando meus pezinhos. Sempre fazíamos esse passeio. Só não era legal quando meu pai passava da medida na bebida e ficava querendo me levar para dentro do mar, eu tinha um verdadeiro horror de entrar na água. Ele me pegava, colocando-me sentada nos ombros dele entre o pescoço e ia mar a dentro comigo... Até aí tudo bem, mas quando chegava dentro da água ele me atirava para eu aprender a nadar. Para ele, era raso, mas para mim era fundo, e eu engolia muita água, sem contar que quando ficava de pé, eu sentia umas coisas esquisitas por baixo dos meus pés a mexerem, eu entrava em pânico... Começava a gritar sem parar e isso causava um alvoroço e os banhistas presentes paravam para olhar o que estava acontecendo, e papai ficava zangado dizendo que não me levaria mais a praia. Certa vez, quando ele tentou me pegar, eu corri tanto que me perdi, fiquei escondida debaixo da esteira de um desconhecido que nem estava naquele momento em seu guarda-sol, adormeci e meus pais ficaram me procurando um tempão. Quando me acharam, apanhei. Em outra vez, quando meu pai ficava daquele jeito quando bebia, tentou-me pegar eu corri e me escondi novamente debaixo de uma esteira, só que ao me ajoelhar, ajoelhei em cima de um caranguejo vivo que acabou me ferindo no joelho com suas pinças abrindo um corte que tenho marca até hoje. Das muitas lembranças que tenho de idas a praia quando era pequena, lembro-me de uma vez que ficamos em um hotel que era horrível o cheiro. Eu não gostava do cheiro do quarto, das roupas de cama que me parecia imundas e os travesseiros todos manchados. Nesta época eu já reparava em limpeza, eu não gostava de nada sujo ou suspeito de estar contaminado. Não quis dormir neste dia na cama do hotel, meus pais precisaram ir embora para casa por que eu não parava de chorar dizendo que estava passando mal com o cheiro que havia no ambiente do quarto. Depois que nasceu a Edilene minha irmã, não fomos mais a praia...

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